quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Teatro/CRÍTICA

"Santa"

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Belíssima montagem no Tom Jobim



Lionel Fischer



"Uma obra em processo, que revela no seu decorrer a complexidade humana de lidar com a solidão, com o outro e com o cotidiano através das palavras e do corpo. Um poema sensorial em que luz, som, texto, movimento, espacialidade, cenário e figurino se integram a fim de causar uma experiência sinestésica para o espectador".

Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima sintetiza a proposta de "Santa", em cartaz no Teatro Tom Jobim. Diogo Liberano responde pela dramaturgia, estando a concepção e direção a cargo de Guilherme Leme Garcia (Gunnar Borges atua como codiretor). No elenco, Guilherme Leme Garcia e Angela Vieira (em setembro, Guilherme será substituído por Antonio Negreiros).

Estamos diante de um evento teatral que visa, como expresso no parágrafo inicial, converter-se em um poema sensorial, que naturalmente depende da justa interação dos vários elementos utilizados, a começar pelo texto. Este, em seu início, proferido pausadamente tanto em gravação como pelos atores em sua primeira cena, evidencia uma clara e salutar tendência poética. Aos poucos, no entanto, a linguagem lamentavelmente se empobrece, tornando-se absolutamente cotidiana e o enredo, que nos conta uma história de amor de trás para a frente, jamais escapa ao que já muito se conhece sobre o tema.

Em contrapartida, e agora já entrando no espetáculo propriamente dito, a pretendida poética se torna forte e visceral nas passagens em que a palavra inexiste - neste particular, é muito expressivo o momento em que os amantes tentam, inúmeras vezes, se separar, sem de início o conseguirem, como a sugerir que a paixão que os une é tão forte quanto a impossibilidade de seguirem juntos. Mas quando a dança apenas traduz leves momentos de felicidade, aí o impacto é bem menor - o que talvez seja inevitável. 

Com relação a Guilherme Leme Garcia e Angela Vieira, ambos impõem total veracidade tanto às palavras quanto aos movimentos e danças que executam. E se Leme consegue, sem ser bailarino, exibir grande expressividade corporal, esta atinge um patamar ainda maior na performance de Vieira, o que em nada surpreende, já que a atriz foi bailarina profissional durante muitos anos. E cabe também destacar a total cumplicidade entre ambos, o que só costuma existir quando os intérpretes acreditam totalmente no projeto em que estão engajados. 

Na equipe técnica, considero de altíssimo nível e realmente deslumbrantes a instalação cenográfica de Bia Junqueira e a iluminação de Tomás Ribas, que dialogam de forma extraordinária ao longo de toda a montagem. Também irrepreensíveis o figurino de Rui Cortez, a direção de movimento e coreografia de Luar Maria, a direção musical de Marcelo H. e a trilha sonora de Marcelo H. e Marcelo Vig. A destacar, também, o belíssimo projeto gráfico de Alexandre de Castro.

SANTA - Dramaturgia de Diogo Liberano. Concepção e direção de Guilherme Leme Garcia. Com Guilherme Leme Garcia e Angela Vieira. Teatro Tom Jobim. Sábado às 21h, domingo às 19h.





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