quarta-feira, 22 de julho de 2015

Teatro/CRÍTICA

"Uma revista de ano - PoliticaMente Incorretos"

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Divertido e oportuno tributo



Lionel Fischer



"Tudo começa no fatídico 8 de julho de 2014, quando a seleção brasileira toma inacreditáveis 7 x 1 da Alemanha. A partir daí, e ao longo de um ano, o texto aborda, dentre muitos outros temas, o casamento gay, a diminuição da maioridade penal, as eleições de 2014, as passeatas contra a corrupção, o beijo de Fernanda e Natália na TV, o ovo Fabergé falsificado de Eike Baptista e a crise hídrica".

Extraído (e levemente editado) do release que me foi enviado, o trecho acima contextualiza "Uma Revista de Ano - PoliticaMente Incorretos", comédia musical em cartaz no Teatro de Arena 
(Espaço Sesc). Ana Velloso assina o texto, com colaboração de Vera Novello e Cristiano Gualda e supervisão de Tânia Brandão. A direção está a cargo de Sergio Módena (codireção de Gustavo Wabner), estando o elenco formado por Ana Velloso, Cristiana Pompeo, Cristiano Gualda, Édio Nunes, Hugo Kerth e Wladimir Pinheiro.

O teatro de revista tornou-se um gênero popular no Brasil a partir do final do século XIX. Entre os principais escritores de revista estava Arthur Azevedo que, em "A Fantasia" (1896), assim define o gênero: "Pimenta sim, muita pimenta, e quatro, ou cinco, ou seis lundus, chalaças velhas, bolorentas, pernas à mostra e seios nus". Pode-se então caracterizar o teatro de revista como um veículo de difusão de modos e costumes, como um retrato sociológico, ou como um estimulador de riso e alegria através de falas irônicas e de duplo sentido, assim como de canções apimentadas e hinos picarescos. E nunca é demais frisar o avassalador poder crítico do gênero, em que pese sua leveza e descontração. 

No presente caso, estamos diante de uma proposta que presta divertido e significativo tributo ao gênero, ainda que dispense plumas e paetês, deslumbrantes escadarias e estonteantes vedetes. Ao revisitar alguns fatos marcantes de nossa história recente, o texto faculta ao espectador a possibilidade de se divertir com os temas abordados, assim como de refletir sobre os mesmos. E embora alguns quadros sejam superiores a outros, em sua maioria eles exercem inegável poder de sedução e nos fazem pensar sobre nosso curioso país. A única ressalva fica por conta do recurso de um grupo em processo de ensaio, a meu ver desnecessário.

Com relação ao espetáculo, Sergio Módena impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico. Valendo-se de marcações criativas e divertidas, e evidenciando excelente domínio dos tempos rítmicos, Módena exibe o mérito suplementar de haver extraído ótimas atuações dos intérpretes, seja quando estão solando, seja quando integrados ao conjunto. Além disso, todos cantam muito bem e executam com desenvoltura e graça as quase sempre hilárias coreografias. Assim, a todos parabenizo com o mesmo entusiasmo e a todos agradeço a divertida noite que me proporcionaram.

Na equipe técnica, Wladimir Pinheiro responde por simples e eficiente direção musical, sendo de excelente nível a cenografia (Bia Gondomar, Sergio Módena e Gustavo Wabner), os figurinos e adereços (Antônio Negreiros e Tatiana Rodrigues), os adereços e cenotécnica (Derô Martin), a iluminação (Tiago e Fernanda Mantovani) e as coreografias (Édio Nunes).

UMA REVISTA DE ANO - POLITICAMENTE INCORRETOS - Texto de Ana Velloso. Direção de Sergio Módena. Com Ana Velloso, Cristiana Pompeo, Cristiano Gualda, Édio Nunes, Hugo Kert e Wladimir Pinheiro. Teatro Arena (Espaço Sesc). Quinta a sábado, 20h30. Domingo, 19h.






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