quinta-feira, 7 de maio de 2015

Teatro/CRÍTICA

"Infância, tiros e plumas"

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Ótima proposta gera texto irregular



Lionel Fischer



"Desequilibrada e bipolar, Marín está num processo litigioso de separação com Henrique, médico famoso por inventar um antidepressivo que cura traumas de infância. Porém, mesmo nessa situação, resolvem comemorar o aniversário de nove anos de Júnior numa viagem à Disney. Suzaninha, garota mimada e arrogante, é candidata à Miss Universo Mirim e está acompanhada de seu segurança Argos. No mesmo voo ainda viajam os traficantes Pitil e Fernando, que são funcionários da companhia aérea e sequestram Juanito, um cucaracho de quatro anos, para fazê-lo de mula. Fechando o grupo, a comissária Sângela, amante de Henrique".

Extraído (e levemente editado) do release que me foi enviado, o trecho acima reproduz o enredo de "Infância, tiros e plumas", de Jô Bilac, mais recente produção da Cia OmondÉ. Em cartaz no Teatro SESC Ginástico, a peça chega à cena com direção de Inez Viana, estando o elenco formado por Carolina Pismel (Suzaninha), Debora Lamm (Marín), Iano Salomão (Argos), Jefferson Schroeder (Juanito), Juliane Bodini (Sângela), Junior Dantas (Cheval), Leonardo Brício (Henrique), Luis Antonio Fortes (Junior) e Zé Wendell (Pitil).

Em depoimento que consta do programa, a diretora Inez Viana revela que, ao longo de dez meses, ela e o grupo se dedicaram a examinar a própria infância e a passagem desta para a adolescência - e finalmente para a vida adulta. À medida que essa reflexão avançava e questões eram formuladas, o material ia sendo enviado para Jô Bilac, que respondia com pertinentes perguntas. Como se vê, tão longo e empenhado processo não deixa margem a nenhuma dúvida quanto à seriedade do projeto. No entanto, o texto dele resultante deixa um pouco a desejar.

Que Jô Bilac é um autor muito talentoso, isso todos sabemos - caso fosse desprovido de méritos dramatúrgicos não teria escrito, dentre outras, peças como "Conselho de classe " ou "Beije minha lápide". Sendo assim , em nada me surpreende que o texto contenha alguns personagens interessantes, eventuais diálogos muito saborosos e situações cujo proposital desvario objetiva uma crítica à sociedade de consumo. Mas esta, aos poucos, acaba perdendo sua potência, pois o autor prioriza em igual medida passagens significativas e outras bem menos relevantes. Neste sentido, talvez o resultado final fosse bem mais atraente se o número de personagens fosse um pouco menor. Enfim...trata-se apenas de uma opinião e como tal sujeita a todos os enganos.

Em contrapartida, o espetáculo assinado por Inez Viana é excelente, cabendo destacar a originalidade das marcações, o domínio dos tempos rítmicos e a coragem de levar às últimas consequências a desvairada proposta do autor no tocante aos personagens. Estes, por sinal, interpretados de forma irretocável por um elenco coeso e que evidencia total adesão ao jogo cênico proposto. Ainda assim, acho imperioso ressaltar as maravilhosas performances de Debora Lamm e Carolina Pismel. A primeira por sua capacidade de mesclar humor e dramaticidade, e a segunda pelo delicioso despudor que confere à ensandecida Suzaninha.

Na equipe técnica, considero irrepreensíveis as contribuições de todos os profissionais envolvidos no projeto - Mina Quental (cenografia), Flavio Souza (figurinos), Renato Machado e Ana Luzia Simoni (iluminação), Marcelo Alonso Neves (direção musical) e Dani Amorim (direção de movimento). 

INFÂNCIA, TIROS E PLUMAS - Texto de Jô Bilac. Direção de Inez Viana. Com a Cia OmondÉ. Teatro SESC Ginástico. Quinta a domingo, 19h.





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