segunda-feira, 7 de abril de 2014

Teatro/CRÍTICA

"O que acontece quando a coisa acaba"


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Comovente e amargo reencontro



Lionel Fischer



São duas as irmãs. E dois são os destinos de ambas, diametralmente opostos. Alda fica em casa, cuidando da mãe doente. Alma sai para a vida, buscando se encontrar. Um ano depois, ela retorna, ao que parece sem ter obtido as respostas que buscava. E novas perguntas surgem, de ambas as partes, não raro carregadas de ressentimento e mágoa. Até que uma imprevista revelação conduz a um desfecho libertador, para uma das irmãs, e trágico, para a outra.

Eis, em resumo, o enredo de "O que acontece quando a coisa acaba", de autoria de Claudia Sardinha e Julia Stockler, também intérpretes das duas únicas personagens. Em cartaz no Teatro O Tablado, a montagem leva a assinatura de Felipe Cabral, cabendo ressaltar que os três profissionais fizeram sua formação inicial no mágico espaço criado por Maria Clara Machado em 1951.  

Como todos sabemos, nem sempre são fáceis as relações familiares, dentre outras razões porque não escolhemos nossa família. E quando o cerne da questão envolve uma figura materna ou paterna, e mais ainda, quando essa figura, em função de uma doença, demanda cuidados especiais, aí mesmo que determinados conflitos, até então latentes, afloram com uma insuspeitada virulência. E é exatamente o que ocorre no presente texto.

Bem escrito, contendo ótimas personagens, diálogos fluentes e uma ação dramática que prende a atenção do espectador ao longo de todo o espetáculo, "O que acontece quando a coisa acaba" recebeu segura e criativa versão cênica de Felipe Cabral, cabendo destacar a criatividade de suas marcações e sua ousadia no tocante aos tempos rítmicos, em especial naqueles em que eventuais silêncios imperam, invariavelmente impregnados de grande energia pelas duas atrizes.

Claudia Sardinha e Julia Stockler são ainda muito jovens - 26 e 25 anos, respectivamente. Mas por terem iniciado seus estudos teatrais na pré-adolescência e realizado inúmeros trabalhos, seja no teatro, no cinema e na TV, já possuem considerável experiência. E esta parceria, somada ao talento de ambas, não poderia gerar outro resultado que não a excelência de ambas as performances, tanto do ponto de vista vocal como corporal. 

Finalmente, cabe salientar que o presente espetáculo foi realizado sem nenhum tipo de patrocínio, o que só demonstra que, quando se quer verdadeiramente algo, todos os obstáculos são transponíveis. Assim, só me resta desejar que os sempre caprichosos deuses do teatro abençoem a trajetória deste jovem e talentoso trio de profissionais. E torcer para que Cacá Mourthé, diretora artística do Tablado, continue firme em sua política de sempre facultar o sagrado palco do Tablado àqueles que de fato o merecem.

Com relação à equipe técnica, Ana Carolina Lopes assina figurinos adequadamente neutros, sendo muito expressiva a iluminação de Poliana Pinheiro, a mesma expressividade presente na abstrata cenografia de Constanza de Córdova e na música de Pablo Paleólogo. Cabe também destacar as preciosas colaborações de Verônica Machado (preparação vocal) e Marina Magalhães (preparação de movimento), assim como a belíssima foto de João Atala que consta do programa.

O QUE ACONTECE QUANDO A COISA ACABA - Texto de Claudia Sardinha e Julia Stockler. Direção de Felipe Cabral. Com Claudia Sardinha e Julia Stockler. Teatro O Tablado. Sábado, 21h. Domingo, 20h. 

    


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