quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

MARIA CLARA MACHADO


Nasceu a 3 de abril de 1921 em Belo Horizonte (MG), filha de Aníbal Monteiro Machado, escritor, mineiro de Sabará, e Aracy Jacob Machado, e veio morar no Rio de Janeiro aos 4 anos de idade. Eram cinco irmãs, todas Marias – Celina, Clara, Luiza, Ana, Ethel (Tatau). Vinícius de Moraes chegou a fazer uma poesia para elas, intitulada “As Machadinhas”. No Rio, a família morou na Gávea, em Copacabana e, finalmente, em Ipanema, a famosa casa da ‘’Visconde Pirajá 487’’, onde seu pai recebia intelectuais e artistas aos domingos. Esse ambiente certamente concorreu para a formação intelectual de Maria Clara.

Sua mãe faleceu em 1930, quando Maria Clara tinha apenas 9 anos de idade. Alguns anos mais tarde seu pai se casaria com a cunhada, Selma, que já morava com a família desde que perdeu os pais aos 13 anos. Selma passou, assim, a ser como uma irmã mais velha de Maria Clara. Desse casamento nasceu Aracy, nome dado em homenagem à irmã de Selma e primeira mulher de Aníbal Machado.

Na adolescência foi bandeirante e nos acampamentos já começou a descobrir sua veia artística, sendo responsável pelos programas recreativos, representando personagens históricos como Joana D’arc, Maria Quitéria, entre outras.

Em 1941 participou de uma reunião Internacional de Bandeirantes, em Nova York, estendendo sua temporada em Washington por sete meses, onde morou na casa de Candido Portinari, grande amigo de seu pai, e que estava pintando o painel para o Congresso americano. Em 1948 voltaria aos Estados Unidos com um grupo de bandeirantes para uma breve temporada. Foi graças ao bandeirantismo que ela foi parar no Patronato Operário de Gávea, instituição de caridade dirigida por um grupo de senhoras da sociedade que atendia aos moradores das favelas próximas ao Patronato.

Foi aí que ela começou a trabalhar com teatro de bonecos, técnica que aprendera no Instituto Pestalozzi do Rio de Janeiro, em Copacabana. Pluft, o fantasminha, O boi e o burro no caminho de Belém, e Maroquinhas Fru-Fru, foram peças escritas primeiramente para o teatro de bonecos. A partir deste trabalho Maria Clara escreveu o livro ”Como fazer teatrinho de bonecos”, publicado pela editora Melhoramentos e reeditado, em 1969, pela editora Agir.

Em 1949, com um grupo de amigos, entre os quais Jorge Leão Teixeira, Claudio Fornari, Stelio Roxo, João Sergio Marinho Nunes, e Geraldo Queiroz, criaram um grupo de teatro amador a que deram o nome de “Os Farsantes”, e montaram a Farsa do advogado Pathelin, dirigida pelo frei Sebastião Hasselman, apresentada em curta temporada no Teatro de Bolso, na praça General Osório, Ipanema. Era o embrião do teatro Tablado.

No final de 1949 ganhou uma bolsa do governo francês e fez, em 1950, um curso de teatro em Paris, com Etienne Decroux, mestre de Jean Louis Barrault e Marcel Marceau. Com uma bolsa de estudos da Unesco fez um curso de férias em Londres nesse mesmo ano, voltando ao Brasil no final de 1950.

Em janeiro de 1951 fez sua primeira experiência profissional com cinema e, convidada por Martim Gonçalves, que conhecera na França e trabalhava na Companhia Cinematográfica Vera Cruz, participou como atriz do filme Ângela, rodado em Pelotas (RS), com Alberto Ruchell e Eliana.

Em outubro de 1951, com um grupo de amigos reunidos na casa de seu pai, Aníbal Machado, cria o Teatro Amador O Tablado, que passou a funcionar no Patronato Operário da Gávea, à avenida Lineu de Paula Machado, onde encontra-se até hoje. Com o tempo, O Tablado passou a ser referência na formação de atores, figurinistas, cenógrafos, diretores, iluminadores, sendo considerado um celeiro de talentos hoje famosos.

Em 1956, preocupada em dar apoio aos novos grupos que se formavam, principalmente no interior do país, criou os Cadernos de Teatro, cujo lema era Remember Amapá. O objetivo dessa publicação era ensinar o bê-á-bá da técnica, como fabricar um refletor, noções de direção, interpretação etc.

De 1959 a 1974, foi professora de improvisação no antigo Conservatório Nacional de Teatro, atual escola de teatro da UniRio, passando a dirigir o mesmo durante o ano 1963.
Convidada em 1961 pelo Governo do Estado da Guanabara, passou a dirigir o Serviço de Teatro e Diversões do Estado, ocupando, ao mesmo tempo, o cargo de Secretário Geral do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, onde ficou até início de 1963.

Em 1965, Maria Clara foi a Paris representando o Brasil no Congresso de Teatro para a Juventude, tendo na ocasião tido a oportunidade de assistir, nesta cidade, a montagem de sua peça “O Cavalinho Azul”, que representou o Brasil no Congresso da Unesco em Tel-Aviv.
A partir de 1964 passa a dar um curso de improvisação n’O Tablado.

Na década de 1990 começa a dividir a direção de suas peças com sua sobrinha Cacá Mourthé, que frequentou o Tablado desde criança e foi aluna e assistente de direção, absorvendo o espírito e a liderança de Maria Clara No ano de 2000, Maria Clara escreve, em parceria com Cacá, a peça Jonas e a Baleia, fazendo da sobrinha sua herdeira à frente do Tablado.

Apesar de mais conhecida como autora e diretora de teatro, Maria Clara também atuou como atriz em varias peças do teatro O Tablado e em outros grupos. Foi assim que, em 1981, foi convidada a atuar na peça Ensina-me a Viver, de Colin Higgins, substituindo Henriette Morineau, com direção de Domingos de Oliveira.

Maria Clara escreveu 27 peças infantis e cinco para adultos. Suas peças infantis foram traduzidas para vários idiomas e montadas diversas vezes fora do Brasil. Recebeu por mais de uma vez o prêmio Molière, Mambembe e Coca-Cola, além dos prêmios Shell, Sacy, Golfinho de Ouro, o da Academia Brasileira de Letras, entre outros.

Tendo dedicado toda a sua vida ao teatro, é comparada a autores como Mark Twain, Hans Christian Andersen e os irmãos Grimm. Sua obra é considerada hoje tão importante para a dramaturgia infantil quanto a obra de Nelson Rodrigues o foi para a modernização da dramaturgia brasileira.

Como disse Carlos Drummond de Andrade: “Em Maria Clara a escritora e diretora coincidem com uma riquíssima organização humana, onde o fantástico janta na mesa do real, e se comunicam naturalmente… o fantástico fica plausível, é um dado cotidiano, até corriqueiro. E o real surge desligado de seu peso tantas vezes incomodo”.
Maria Clara faleceu no dia 30 de abril de 2001, mas deixou a todos os seus admiradores e amigos um valioso legado, especialmente voltado para o público Infanto-Juvenil.

Pesquisa de Celina Whatel
Extraído do site de O Tablado

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