quarta-feira, 4 de dezembro de 2013





BIOGRAFIAS

JACQUES LACAN

(1901 – 1981)
Jacques-Marie Émile Lacan nasceu em Paris, em 13 de abril de 1901, 
em uma família de fabricantes de vinagres de Orléans (os Dessaux) 
de sólida tradição católica e conservadora. Progressivamente, 
deixou de utilizar o nome Marie, que havia sido acrescentado ao seu 
nome em alusão à Virgem Maria. Seu pai, Alfred Lacan (1873-1960) 
era um homem de aparência fraca, atormentado pelo poder de seu 
próprio pai, Émile Lacan (1839-1915). Émilie Baudry (1876-1948), 
sua mãe, apresentava-se mais intelectual e muito dedicada à religião. 
Esse contexto familiar desagradava o jovem Lacan. Lacan era o filho 
primogênito e teve três irmãos – Madeleine, Raymond e Marc-François.
Na adolescência rompeu com o catolicismo e passou a dedicar-se, 
com afinco, à vanguarda literária – leu Baruch Spinoza, Nietzsche, 
Charles Maurras, os surrealistas e James Joyce. Foi assíduo 
freqüentador de livrarias e grupos de escritores e poetas.
Como residente no Hospital Sainte-Anne, em Paris, orientou-se 
para a psiquiatria. Teve ilustres professores. Porém, um, em especial, 
deixou nele forte impressão: Gaëtan Gatian de Clérambault.
Em 1932, iniciou sua análise com Rudolph Loewenstein. Essa análise 
durou seis anos e meio, tendo sido interrompida em função de forte 
desentendimento entre ambos.
Embora estimado como um brilhante intelectual fora dos meios 
psicanalíticos franceses, Lacan não recebeu reconhecimento da 
Sociedade Psicanalítica de Paris (SPP), na qual seus trabalhos não 
eram considerados e seu anticonformismo causava irritação.
Em 1934, casou-se com Marie-Louise Blondin (1906-1983), Malou. 
Com Malou teve três filhos – Caroline, Thibaut e Sibylle.
A partir de 1936, após iniciar-se na filosofia hegeliana e participar 
de importantes grupos de grande riqueza cultural e teórica, concluiu
que a obra freudiana devia ser relida “ao pé da letra” e à luz 
da tradição filosófica alemã.
Em 1938, nutrindo forte sentimento de repugnância em relação ao 
triunfo do nazismo, chegou à conclusão de que a psicanálise nascera 
do declínio do patriarcado e argumentava a favor da revalorização de 
sua função simbólica no mundo ameaçado pelo fascismo.
Antes disso, em 1937, apaixonou-se por Sylvia Maklès-Bataille
(1908-1993), mantendo com a mesma um romance duradouro, 
apesar de ambos ainda permanecerem oficialmente casados com 
seus cônjuges legítimos. Em 1940, encontrava-se em uma situação 
delicada: Malou, sua esposa legítima, estava grávida de Sibylle 
(nascida em 26 de novembro de 1940) e Sylvia Bataille estava 
grávida de Judith, a quarta dos filhos de Lacan (nascida em 3 de julho 
de 1941). Judith foi registrada apenas com o sobrenome Bataille e 
só pôde usar o nome do pai em 1964. Essa circunstância viria a ser 
uma das determinações inconscientes da elaboração do conceito 
lacaniano de Nome-do-Pai. A união oficial de Lacan e Sylvia Bataille 
somente veio a ocorrer em 1953.
Lacan denominou o começo de seu ensino de “retorno a Freud”. 
Apoiando-se na filosofia hegeliana, na lingüística saussuriana e nos 
trabalhos de Lévi-Strauss, retornou aos textos freudianos. Assim, tal 
aporte possibilitou a elaboração de suas concepções sobre o 
“significante”, o “inconsciente organizado como uma linguagem”,
 “simbólico, imaginário e real”, a “interdição do incesto” e o 
“complexo de Édipo”.
Na Sociedade de Psicanálise de Paris (SPP), Lacan atraiu muitos 
alunos, fascinados pelo seu ensino e desejosos de romper com o 
freudismo acadêmico da primeira geração francesa.
Em 1953, no auge da primeira crise na psicanálise francesa, 
acerca da questão da análise leiga e da duração das sessões, 
Lacan passou a integrar o grupo fundador da Sociedade Francesa 
de Psicanálise (SFP). Nesse momento deu início ao seu Seminário 
(quinzenal), comentando sistematicamente, ao longo de dez anos, 
os grandes textos freudianos.
A partir de 1953, o grupo de fundadores da Sociedade Francesa 
de Psicanálise (SFP) iniciou negociações para a aprovação da SFP 
como filiada da IPA. Após muitas discussões e tentativas, o comitê 
executivo da IPA recusou a Lacan o direito de formar didatas.
A segunda grande crise na psicanálise francesa deu-se em 1963. 
Um ano depois, a SFP foi dissolvida e Lacan fundou a École 
Freudienne de Paris (EFP).
Em 1965, fundou a coleção Champ Freudien nas Éditions du Seuil e 
em 1966, publicou os “Escritos”.
Diante do crescimento da EFP, Lacan criou o “passe”, 
novo procedimento de acesso à análise didática. Aplicado a partir 
de 1969, provocou a terceira crise da história do movimento 
psicanalítico francês. Foi criada a Organização Psicanalítica de 
Língua Francesa (OPLF) e iniciada uma crise institucional 
na EFP, o que resultou em sua dissolução em 1980 e, posteriormente, 
na dispersão do movimento lacaniano em cerca de vinte associações.
Em 1974, Lacan dirigiu um ensino do “Campo Freudiano” no 
Departamento de Psicanálise da Universidade de Paris VIII.
Sofrendo de distúrbios cerebrais e de uma afasia parcial, 
Lacan morreu em 9 de setembro de 1981, após a retirada 
de um tumor maligno no cólon.
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Resenha elaborada por Aurea Chagas Cerqueira, membro do Instituto 
de Psicanálise Virgínia Leone Bicudo da Sociedade de Psicanálise de Brasília.

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