quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Teatro/CRÍTICA

"Memória inventada no sonho de alguém"

..................................................................................
Espetáculo supera dramaturgia algo frágil



Lionel Fischer



"A montagem investiga as fronteiras entre o sonho e a realidade, ao se debruçar na história de um homem que, durante um passeio com seu cachorro, se apaixona por uma mulher que vê passar na rua e, ao perdê-la de vista, decide tentar sonhar com ela todas as noites na esperança de que, um dia, ao acordar, eles estejam de fato apaixonados e juntos".

Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima resume o enredo de "Memória inventada no sonho de alguém", realização da Cia. Sala Escura de Teatro, em cartaz no Glaucio Gill. Iuri Kruschewsky assina o texto e a direção, estando o elenco composto por Bruno Quaresma, Mariana Pastori, Pedro Emanuel e Rosa Iranzo.

Investigar as fronteiras entre sonho e realidade não constitui um tema novo, mas isso não representa nenhum entrave, já que acredito que praticamente todos os temas já foram explorados. A questão se resume à forma como tal tema é trabalhado. Aqui o autor parte de uma ideia interessante, sendo tal interesse reforçado pelo fato de os atores encarnarem tanto os personagens como o já mencionado cão.

E mesmo reconhecendo que há passagens interessantes e pensamentos pertinentes, acredito que a estrutura narrativa adotada peca um pouco por seu caráter um tanto repetitivo, pois volta e meia uma mesma situação é abordada sem que um novo e significativo dado contribua para a progressão da trama - cabe ressaltar que isso não deixa de acontecer eventualmente, mas o que predomina é a circularidade da narrativa.

Tal deficiência, no entanto, é amplamente compensada pelo espetáculo. Iuri Kruschewsky impõe à cena uma dinâmica bastante criativa, valendo-se de marcações diversificadas e imprevistas. Cabe também salientar a original alternância dos tempos rítmicos, assim como a capacidade do elenco de executar todos os movimentos com grande precisão. E quando a prioridade recai no texto articulado, os quatro intérpretes evidenciam segurança e ótima contracena, além de inegável capacidade de entrega.

Na equipe técnica, destaco com grande entusiasmo a participação do tecladista João Medeiros, autor da trilha original, decisiva para o fortalecimento dos múltiplos climas emocionais em jogo. A mesma eficiência se faz presente na ótima iluminação de João Gioia e pelas mesmas razões, sendo corretos o cenário de Carlos Augusto Campos e os figurinos de Tiago Ribeiro, especialmente os femininos. Gostaria ainda de registar a ótima direção de movimento de Eléonore Guisnet e a precisão dos operadores de luz e som, cujos nomes não cito por desconhecê-los.

MEMÓRIA INVENTADA NO SONHO DE ALGUÉM - Texto e direção de Iuri Kruschewsky. Com a Cia. Sala Escura de Teatro. Teatro Glaucio Gill. Quarta e quinta, 21h.

   








Nenhum comentário:

Postar um comentário