terça-feira, 17 de setembro de 2013

Teatro/CRÍTICA

"E foram (quase) felizes para sempre"

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Deliciosa abordagem sobre as relações amorosas


Lionel Fischer



Como se sabe, de uns anos para cá os palcos cariocas têm exibido incontáveis peças tendo como tema as relações amorosas. Num dado momento, chequei a questionar tal excesso. Mas logo me dei conta de que, se o assunto está tão em pauta, deve ser porque as pessoas estão sentindo necessidade de falar de amor. Mas é claro que a qualidade das abordagens varia muito. Felizmente, aqui estamos diante de um texto que, por si só, já valeria uma ida ao teatro.

De autoria de Heloisa Perissé, "E foram (quase) felizes para sempre" chega à cena (Teatro Vannucci) com direção de Susana Garcia e interpretação da autora.

A protagonista é uma escritora que surge em cena na noite de lançamento de seu mais recente livro. Mas logo se dá conta de que não conseguirá agir como convém, acossada por lembranças do homem com quem foi casada e do qual se separou incontáveis vezes.

Estabelecendo uma relação direta com a platéia, a personagem vai relatando seus encontros e desencontros com seu parceiro, de personalidade diametralmente oposta. Ao mesmo tempo, Heloisa Perissé dá vida a muitos outros personagens, em contextos diversos,
que servem para ilustrar sua incrível variedade de sentimentos e humores. Tal estrutura permite a atriz abordar o tema "relações amorosas" escapando de uma estrutura meramente confessional. 

Repleta de observações tão pertinentes quanto engraçadas sobre as relações amorosas, a peça em questão contou com ótima direção de Susana Garcia, que impõe à cena uma dinâmica eletrizante, diversificada e muito criativa. Afora o fato de ter estabelecido com a autora uma cumplicidade que a permite exibir seus notáveis dotes de comediante.

Dentre os muitos mistérios inerentes à arte de representar, ao menos dois são difíceis de serem explicados: presença cênica e carisma. Não tentarei, portanto, tecer considerações sobre os mesmos, mas apenas afirmar que Heloisa Perissé os possui em doses invejáveis,
tal o magnetismo que exerce sobre a plateia. Dotada de amplos recursos expressivos e de um tempo de comédia irrepreensível, a atriz exibe aqui uma das melhores atuações de sua brilhante carreira.

Com relação à equipe técnica, considero de primeiríssimo nível as contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta deliciosa e enriquecedora empreitada teatral - Maneco Quinderé (iluminação), Miguel Pinto Guimarães (cenografia), Rita Murtinho (figurino), Alexandre Elias (trilha sonora e pesquisa musical), Marcia Rubin (orientadora corporal) e à equipe responsável pela excelente produção, capitaneada por Cristiana Lara Resende.

E FORAM (QUASE) FELIZES PARA SEMPRE - Texto de Heloisa Perissé. Direção de Susana Garcia. Com Heloisa Perissé. Teatro Vannucci. Quinta a sábado, 21h30. Domingo, 20h30.




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