quarta-feira, 24 de abril de 2013

A Cara e a Coragem do Teatro


Aderbal Freire-Filho


Amiga, amigo,

          Aí pelo fim dos anos 80, o Domingos Oliveira inventou um Clube de Diretores de Teatro. Fizemos umas reuniões, no apê do Domingos, no circo do Paulo Reis, no play-ground da casa da Priscila, vieram diretores de todas as gerações, veio o Flávio Rangel, o João Bethencourt. Durou pouco. Falo aqui do João e lembro de outra associação que ele animou, a acet, de produtores, que viveu um bom tempo. João, um mestre, sabia da importância de estarmos juntos. Ele morreu num domingo, na quinta-feira tinha estado comigo, em outro clube a que pertenceu a vida toda. Lembro desse dia: o João falava fervorosamente, entusiasmado, de énthus, inspirado pelos deuses.

           É ainda outra associação a que mais tem feito pelo teatro carioca nos últimos anos, a associação dos produtores, aptr, criou um prêmio, lidera os movimentos que nos interessam, como o movimento contra o fechamento dos teatros…

           Antes dessas todas, o Vianna, o João (outro), o Viriato, o Gastão e sobretudo a Francisca, fundaram uma associação que mudou o teatro do Brasil, que deu uma cara (e uma coragem) ao teatro do Brasil. Eu entrei nessa associação em 1971, cheguei lá estavam o Nelson, o Carlos, o Manuel, a Rachel, o Dias… O Carlos me disse, uns anos depois, numa sala de lá: "ah, foi você quem colocou o Nelson no meu poema". Eu tinha adaptado para teatro um famoso poema dele e citei o Nelson.

          Como naqueles jogos de juntar corpo e cabeça, dou aqui uns complementos (nomes ou sobrenomes) para você distribuir por essa turma: Tojeiro, Oduvaldo, Gonzaga, do Rio, Correia, Drummond, Rodrigues, Gomes, Queiroz, Bandeira…

            Estou lá até hoje, embora nos últimos anos muita gente tenha saído. Muitos tiveram suas razões para sair, não discuto. Mas garanto: ninguém foi para outra associação, para outro clube, porque não existe nenhuma associação igual. Quem passou seus direitos para uma empresa, passou seus direitos para uma empresa, onde não vai encontrar nenhum companheiro para discutir, conversar, trocar idéias, fazer planos, defender o teatro, publicar peças, continuar a história. É outra coisa. Estão tão isolados como os que cuidam sozinho das suas vidas profissionais.

            Está foda ver o que tenho visto, viver o que tenho vivido, perder o que tenho perdido, lutar o que tenho lutado, quase sozinho nessa associação. Não sou herói, quixote, porra nenhuma. Vou ser herói daqui a um, dois meses, quando me atirar do abismo e mandar tudo à merda. Quando tiver coragem de, sabendo do que sei, deixar morrer a associação. Aí sim, herói. Ou covarde, a diferença é pouca.

           Com cada pessoa que falo do meu clube, da minha associação, fico impressionado de ver como ninguém sabe quase nada dela. Ela é difamada, incompreendida, deformada, distorcida, desconhecida, é campeã do ouvi dizer que.

           Pois quero só contar o que sei: o que essa associação – a Sociedade Brasileira dos Autores de Teatro – fez, o que ainda faz, para que serve, que futuro brilhante teria, porque querem que acabe, que interesses existem por trás da campanha contra ela e, sobretudo, o que ela é, essa associação tão antiga, tão bela e tão desconhecida.

           Vou fazer isso no Teatro Ipanema, hoje, quarta-feira, às 20h. Queria que você estivesse lá. Pelo amor dos deuses e dos diabos, venha!

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