quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Teatro/CRÍTICA


"Alô, Dolly!"

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Humor e encantamento no Leblon


Lionel Fischer


Em certa ocasião, o inglês Peter Brook - o maior encenador vivo - definiu o teatro como "a arte do encontro". E justificou sua opinião afirmando que, para a existência do fenômeno teatral, fazia-se indispensável o estabelecimento de um forte elo entre quem faz e quem assiste. Na ausência do mesmo, nada de significativo poderia acontecer. 

Como acredito ser esta a melhor definição sobre o teatro, não hesito em afirmar que, estivesse Peter Brook na plateia do Teatro Oi Casa Grande, nesta última segunda-feira, na sessão para convidados do musical "Alô, Dolly!", agiria como todos que lá estavam: sorriria o tempo todo, como uma criança encantada, e não economizaria aplausos, tanto ao longo da montagem como em seu término - não estando afastada a hipótese de que pedisse numerosos "bis", como na ópera.

Sim, pois estamos diante de uma versão irrepreensível e deslumbrante de um musical maravilhoso, que agora o público carioca tem o privilégio de assistir. Com texto de Michael Stewart e músicas e letras de Jerry Herman, a montagem tem versão e direção assinadas por Miguel Falabella e elenco formado por Marília Pêra (Dolly), Miguel Falabella (Horácio), Frederico Reuter (Cornélio), Alessandra Verney (Irene), Ubiracy Paraná do Brasil (Barnabé), Ester Elias (Minnie), Brenda Nadler (Ermengarda), Ricardo Pêra (Rudolph), Patricia Bueno (Ernestina) e Thiago Machado (Ambrósio).

No complemento do elenco, temos os cantores-bailarinos Carla Vazquez, Ingrid Gaigher, Karin Hills, Mariana Saraiva, Maysa Mundim, Paola Soneghetti, Thati Abra, Alê Limma, Arízio Magalhães, Daniel Cabral, Fabio Yoshihara, Guilherme Pereira, Ivan Parente, Jefferson Ferreira, Leandro Marbali, Marcel Anselme, Thiago Pires e Ygor Zaggo.

"A ação da peça se passa em 1890, no estado de Nova Iorque, e conta a história de Dolly Levi, uma célebre viúva casamenteira, que é contratada pelo avarento e mal-humorado comerciante de Yonskers, Horácio Vandergelder, para lhe arranjar uma esposa na cidade grande (na capital Nova Iorque). Dolly o apresenta a Irene Molloy, mas inicia uma série de armações, quando decide que ela mesma conquistará o bom partido e ficará rica. O musical destaca ainda o jovem Cornélio Hackl, funcionário de Horácio que se apaixona por Irene. Ele está sempre metido em confusões com seu fiel escudeiro Barnabé Tucker. Além de tentar garantir seu próprio casamento, Dolly também resolve ajudar Ambrósio Kemper a namorar Ermengarda, sobrinha de Horácio, que faz forte oposição ao romance, já que o rapaz é pobre."

Extraído do ótimo release que me foi enviado pelos assessores de imprensa Alan Diniz e Sidimir Sanches, o trecho acima sintetiza o enredo de um dos musicais de maior sucesso na história da Broadway - estreou em 1964 arrebatando 10 Prêmios Tony, já mereceu três remontagens na Broadway e foi exibido no mundo inteiro, inclusive no Brasil, com Bibi Ferreira e Paulo Fortes, além de ter sido transposto para o cinema, sendo o filme protagonizado  por Barbra Streisand e dirigido por Gene Kelly, e indicado a sete Oscars (essas informações também foram extraídas do release).

O primeiro grande trunfo da montagem é a ótima ideia de Miguel Falabella de conferir a seu personagem e seus funcionários um delicioso sotaque caipira, o que contribui para aproximar o texto do universo brasileiro e impregná-lo de deliciosa leveza. Além disso,  Miguel consegue impor à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico (essencialmente lúdico e divertido), cabendo ainda ressaltar suas ótimas versões das letras, criadas em cima de canções não muito complexas, mas absolutamente encantadoras.

Com relação ao elenco, cumpre registrar a excelência de todas as performances, tanto no que concerne ao texto como às passagens cantadas. Mas em face do contexto, seria por demais injusto não particularizar a atuação dos protagonistas. Comediante por excelência, Miguel Falabella está impecável na pele do mal-humorado e avarento Horácio, valorizando ao máximo todas as possibilidades do personagem. Cumpre também registrar que Miguel canta muito bem, executa com elegância e charme as passagens dançadas e, nunca é demais frisar, exibe um carisma que seduz a plateia desde o primeiro momento em que entra em cena.

Quanto a Marília Pêra, mais uma vez me vejo diante de um conhecido impasse: que palavras posso ainda utilizar para transmitir meu sempre renovado deslumbramento com essa atriz que, sob todos os pontos de vista, se insere entre as melhores do mundo? Novamente registrar seus vastíssimos recursos expressivos? Novamente mencionar seu inacreditável carisma e fortíssima presença cênica? Novamente enfatizar sua notável capacidade para o canto? Enfim...vou tentar ser minimamente original e sugerir aos espectadores que prestem atenção à forma como Marília trabalha as palavras, as pausas, a cadência das frases - que ora profere curtas, ora longas -, afora sua assombrosa capacidade de conferir insuspeitado significado a um simples olhar.

E poderia prosseguir por um tempo infinito, mas talvez seja melhor parar por aqui, com uma recomendação: que os amantes da complexa arte de representar compareçam com urgência ao Oi Casa Grande, já que o espetáculo lhes permitirá usufruir, mais uma vez, o imenso talento de uma atriz que, afora estar cada vez mais linda, certamente veio a este mundo com a expressa finalidade de iluminar a todos os que estão à sua volta.    

Na equipe técnica, destaco com o mesmo entusiasmo os exepcionais trabalhos de todos os profissionais envolvidos nesta imperdível empreitada teatral - Sandro Chaim (produção geral), Carlos Bauzys (direção musical e vocal), Fernanda Chamma (coreografias), Fause Haten (figurinos), Renato Theobaldo e Roberto Rolnik (cenografia), Anderson Bueno (visagismo), Paulo César Medeiros (iluminação) e Interface Filmes, Luciana Ferraz e Octavio Juliano (Audiovisual/projeções). Gostaria também de registrar a maravilhosa participação dos músicos, que executam, de forma primorosa, os excelentes arranjos.

ALÔ, DOLLY! - Texto de Michael Stewart. Músicas e letras de Jerry Herman. Versão e direção de Miguel Falabella. Com Marília Pêra, Miguel Falabella e grande elenco. Teatro Oi Casa Grande. Quinta e sexta, 21h. Sábado, 18h e 21h30. Domingo, 19h.





  



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