terça-feira, 23 de agosto de 2011

Teatro/CRÍTICA

"Por pouco"

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Relevância e prolixidade


Lionel Fischer


Dois homens dividem o mesmo quarto num hospital, ambos portadores de câncer, um deles com previsão de sobrevida de uma semana e o outro de quinze dias. Após receberem esse diagnóstico do médico que os atende, resolvem fugir do hospital com o objetivo de, quem sabe, usufruir de forma menos melancólica o pouco tempo que lhes resta - ou ainda tentar encontrar algum sentido para a existência que levaram.

Eis, em resumo, o enredo de "Por pouco", em cartaz no Teatro Poeira. De autoria do dramaturgo francês Samuel Benchetrit, o texto chega à cena com direção de Ary Coslov e elenco formado por Ilvio Amaral, Maurício Canguçu, Wolney Oliveira e Flávia Fernandes.

Do ponto de vista estritamente realista, seria pouco crível aceitar o fato de que dois senhores portadores de uma doença terminal reúnam forças para fugir do hospital (ambos de pijama e um deles arrastando aquele dispositivo que injeta soro) e empreender uma jornada que os coloca em contato com diversos personagens, em diversificados contextos.

Assim, só é possível encarar o texto - uma espécie de comédia dramática - se a ele atribuirmos conotações do chamado Teatro do Absurdo. Isso poderia justificar muitas das passagens exibidas, que, inclusive, poderiam perfeitamente não ter acontecido, serem meras projeções fantasiosas dos protagonistas.

Ainda assim, e mesmo levando-se em conta a relevância de algumas passagens, o texto peca por seu excesso, manifesto sobretudo na extensão de algumas cenas, que poderiam perfeitamente ter sido reduzidas em prol de um ritmo mais dinâmico para o espetáculo.

Este leva a assinatura de Ary Coslov, que, além de excelente intérprete, é também um ótimo diretor de atores. E seu presente trabalho encontra maior validade justamente na performance do elenco, que, sem ser brilhante, ainda assim atende às características essenciais dos personagens. Quanto à dinâmica cênica, esta pode ser considerada apenas correta.

Na equipe técnica, o grande destaque vai para a tradução de Jacqueline Laurence, sendo também de excelente nível a trilha sonora criada pelo diretor. Kika Lopes (figurinos), Marcos Flaksman (cenografia) e Pedro Pederneiras (iluminação) realizam trabalhos em sintonia com o contexto.

POR POUCO - Texto de Samuel Benchetrit. Direção de Ary Coslov. Com Ilvio Amaral, Maurício Canguçu, Wolney Oliveira e Flávia Fernandes. Teatro Poeira. Quinta a sábado, 21h. Domingo, 19h.

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