quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Teatro/CRÍTICA

"Facínora"

................................
Incompreensões na Laura

Lionel Fischer


"Facínora é uma comédia de humor negro que faz uma crítica à intolerância humana. Pelos próprios predicativos que o nome título associa-se - perversa, cruel, má, desalmada - a personagem foco (Bruno Caldeira) é a própria versão desses adjetivos, e nos mostra uma realidade com críticas mordazes, expondo toda a sua ironia e sarcasmo contra a sociedade e opiniões públicas. Porfírio (Gustavo Rizzotti), seu marido, mudo, e por vezes, cáustico e patético, representa a sociedade pública"

Este trecho, extraído do release que me foi enviado, resume o enredo e principais objetivos de "Facínora", em cartaz na Sala Rogério Cardoso da Casa de Cultura Laura Alvim. Mais recente produção da Cia.2 de Teatro, fundada em 1994 e com larga experiência, tanto nacional quanto internacional, a montagem chega à cena com texto assinado por Bruno Caldeira, direção de Caldeira e Gustavo Rizzotti, e interpretação a cargo dos dois profissionais.

Como se sabe, nem sempre intenção e gesto encontram correspondência. Isto posto, cumpre registrar que não tenho a menor dúvida de que o autor realmente pretendeu fazer uma crítica séria e contundente à sociedade em que vivemos, mas lamentavelmente não me parece que seus objetivos se materializaram na cena.

Ambientada em um espaço ambígüo, com algumas conotações góticas, a peça nos mostra uma protagonista que fala sem parar, tecendo considerações sobre infinitos assuntos, mas sem jamais a eles conferir um olhar que transcenda o previsível, e, propositadamente, lançando mão - quase sempre - de uma linguagem que, ao que suponho, objetiva chocar o espectador.

Quanto ao personagem Marido, este entra em cena nu (por razões que não compreendi) e só num dado momento articula um texto, também para mim indecifrável - mais tarde o personagem se veste, masturba uma boneca, e continua repetindo alguns movimentos espasmódicos que, mais uma vez, não consegui entender.

Em rsumo: me deparei com um texto que em nada me tocou e com uma encenação estilizada cuja motivação também escapou ao meu entendimento. E no tocante à interpretação, percebe-se que os dois atores não são desprovidos de talento, mas este, infelizmente, encontra-se aqui a serviço de algo muito aquém do que poderiam realizar.

Na equipe técnica, Bruno Caldeira assina cenário, figurinos e trilha sonora em sintonia com o texto, sendo correta a iluminação de Gustavo Rizzotti.

FACÍNORA - Texto de Bruno Caldeira. Direção de Caldeira e Gustavo Rizzotti. Com Caldeira e Rizzotti. Porão da Laura Alvim.
Terças e quartas, 21h.

Um comentário:

  1. Adorei a peça. Um murro no estômago de todos que acham não serem preconceituosos, e se deparam consigo mesmos, em diversos aspectos do texto. A interpretação de Bruno Caldeira achei excelente. Achei realmente o papel do marido desnecessário. Uma peça que recomendo sempre.

    ResponderExcluir