quarta-feira, 18 de maio de 2011

Cenas para Estudo

O Despertar da Primavera

Frank Wedkind


Sra. Bergman - O médico garantiu que os vômitos vão passar e que também aos poucos a mocinha vai poder sair da cama...Eu quero tanto que você saia logo daí, menina...

Wendla - Mamãe, o médico disse mais alguma coisa?

Sra. Bergman - Não disse mais nada. Disse que a filha da Baroneza von Witziaben também sofria muitos desmaios...É sintoma de anemia!

Wendla - Ele disse que eu estou com anemia, mamãe?

Sra. Bergman - Você precisa tomar leite, comer carne e muitas verduras e legumes...

Wendla - Mamãe! Acho que eu não estou com anemia!

Sra. Bergman - Minha filha, você está com anemia, sim senhora! Wendla, fique quietinha, você está com anemia...

Wendla - Não, mamãe, não estou! Eu sei que não estou!

Sra. Bergman - A senhora está com anemia! O doutor von Braunsenpulve me disse que você está com anemia! Ele é um médico! Meu amor, fique quietinha, você vai melhorar!

Wendla - Mamãe, eu estou com barriga d'água! Mamãe, eu vou morrer!

Sra. Bergman - Você não vai morrer, minha filha! Você não vai morrer!

Wendla - Então por que a senhora está chorando?

Sra. Bergman - Você não vai morrer, minha filha! Wendla, você está esperando um filho!...Ah! Por que você foi me fazer uma coisa dessas, minha filha?

Wendla - Eu não te fiz nada!

Sra. Bergman - E ainda vai negar, Wendla? Eu sei de tudo! Eu sei, mas não tenho coragem de falar...Wendla, minha filha!...Wendla!

Wendla - Não pode ser, mamãe, eu não sou casada!

Sra. Bergman - Por isso mesmo, minha Santa Nossa Senhora! Você não é casada! Wendla, Wendla, minha filha, Wendla, o que é que você foi fazer?

Wendla - Não sei, mamãe! Deus sabe que eu não sei! Nós estávamos deitados no feno...Nunca eu amei outra pessoa no mundo que não fosse a senhora, mamãe!

Sra. Bergman - Meu tesouro!

Wendla - Por que a senhora não me disse nada antes, mamãe?

Sra. Bergman - Minha filha, não vamos complicar mais as coisas! Fique quietinha e confie em sua mãe. Como eu poderia dizer uma coisa dessas a uma menina de quatorze anos! Seria o fim do mundo! Se o Sol apagasse eu até poderia acreditar, mas acreditar no que aconteceu, aí, eu não acredito! Eu te eduquei como minha mãe fez comigo! Agora nós temos, mais que nunca, confiar em Deus! Na sua fé misericordiosa, e fazer o que é preciso! Minha filha, chorar não adianta mais. Se agora nós tivermos coragem não vai acontecer nada! Wendla, coragem! Por que você está tremendo tanto?

Wendla - Tem alguém na porta!

Sra. Bergman - Eu não ouvi nada, meu amor.

Wendla - Eu ouvi! Ouvi, sim! Quem está aí?

Sra. Bergman - Ninguém...Ah, é a senhora Schmidt! Meu deus, ela veio! Wendla, coragem! Agora você vai...Bem, eu vou abrir a porta! Bom dia, Dona Schmnidt, pode entrar! A senhora chegou na hora certa! Vamos entrando.
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Perdoa-me por me traíres

Nelson Rodrigues


Glorinha - Fala.

Nair - Você sempre não disse que a achava a morte de sua mãe linda? Não disse?

Glorinha - Disse.

Nair - Você se fartou de dizer, no colégio, que achava sem classe nenhuma essas mortes por doença, velhice ou desastre. Você queria morrer assim como sua mãe: moça, bonita, tomando veneno. Minto? Responde!

Glorinha - É isso mesmo!

Nair - Terias coragem?

Glorinha - De quê?

Nair - De morrer como tua mãe? Mas comigo, em minha companhia, nós duas abraçadas?

Glorinha - Morrer contigo?

Nair - Não achas legal um pacto de morte? É fogo, minha filha, fogo! Eu morreria agora, neste minuto se...Porque eu não queria morrer sozinha, nunca! O que mete medo na morte é que cada um morre só, não é? Tão só! É preciso alguém para morrer conosco, alguém! Te juro que não teria medo de nada se tu morresses comigo!

Glorinha - Não!

Nair - Eu não precisaria tirar o filho, não precisaria fazer a raspagem. E até já imaginei tudo, vê só: a gente entra num cinema e, lá, no meio da fita, toma veneno, ao mesmo tempo. E quando acenderem a luz, nós duas mortas...Estão levando um filme de Gregory Peck...

Glorinha - De Gregory Peck? Que ótimo!

Nair - Queres? Tua mãe não se matou?

Glorinha - Tenho medo!

Nair - Tens medo de tudo!

Glorinha - De tudo! Eu queria ir à casa de Madame Luba e te digo: tomei um banho caprichado, perfumei o corpo, me ajeitei toda e, na hora, fiz aquela vergonheira...E quando estou namorando - vem o medo outra vez...Medo não sei de quê...

Nair - De teu tio, ora!

Glorinha - Do meu tio? Sim, do meu tio!

Nair - Ou não é?

Glorinha - Tenho mais medo do meu tio do que da morte. É ele que me impede de morrer contigo, no cinema...Na Madame Luba só pensava nele...

Nair - Se eu fosse tu só dormia trancada a chave, por causa do teu tio!

Glorinha - Já vou!

Nair - Não vai, não senhora! Fica comigo, vai ao médico comigo!

Glorinha - E a hora?

Nair - É cedo!

Glorinha - Tarde. E, além disso, eu não posso ver sangue!

Nair - Ou você pensa que eu vou sozinha a esse médico? Tenho medo da dor e posso morrer, não posso? Dizem que o perigo é a perfuração, o perigo. Oh, meu Deus! Te chamei para morrer comigo e não quiseste! Pelo menos isso, não custa. Quero ter alguém comigo, alguém segurando a minha mão! E se eu morrer, quero que tu me beijes, apenas isso: quero ser beijada; um beijo sem maldade, mas que seja beijo!

Glorinha - Irei contigo! Te levarei!
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