sexta-feira, 11 de março de 2011

Examinando Fenômenos Psíquicos

Woody Allen


           Não há dúvida de que o Além existe. O problema é saber a quantos quilômetros fica do centro da cidade e até que horas fica aberto. Fatos inexplicáveis ocorrem constantemente. Um homem vê espíritos. Outro ouve vozes. Um terceiro acorda sobressaltado e se descobre de olhos abertos. Quantos de nós já não sentimos uma mão gelada em nossa nuca quando estamos sozinhos em casa à noite? (Eu nunca, graças a Deus, mas muitos já). O que há por trás destas experiências? Ou na frente delas, se preferirem? Será verdade que algumas pessoas conseguem prever o futuro ou comunicar-se com os mortos? E depois da morte, ainda será necessário tomar banho?

          Felizmente, todas estas perguntas sobre fenômenos psíquicos estarão sendo respondidas por um livro a sair brevemente, intitulado Bu!, de autoria do Dr. Osgood Mulford Twelge, o conhecido parapsicólogo e professor de ectoplasma da Universidade de Columbia. O Dr. Twelge compilou uma série notável de incidentes sobrenaturais, cobrindo todo o leque de fenômenos no gênero - da transmissão de pensamento à bizarra experiência de dois irmãos em diferentes partes do globo, um dos quais tomava banho e quem ficava limpo era o outro.

          A seguir, apresento uma amostra de alguns dos casos mais célebres reunidos pelo Dr. Twelge, juntamente com seus comentários.

                               Aparições

           "No dia 16 de março de 1882, o Sr. J. C. Dubbs acordou de madrugada e viu seu irmão Amos, que havia morrido há 15 anos, sentado ao pé da cama, depenando galinhas. Dubbs perguntou-lhe o que estava fazendo ali e este disse que ele não se preocupasse, porque continuava morto e tinha vindo apenas para o fim de semana. Dubbs perguntou a seu irmão como era o outro mundo e este respondeu: "Não muito diferente de Cleveland". Disse ainda que tinha voltado para transmitir-lhe um recado: que combinar terno azul com gravata verde é uma gafe horrível.

          "Naquele momento, a criada de Dubbs entrou no quarto e viu Dubbs conversando com 'uma névoa leitosa e disforme' que a fez lembrar-se de Amos Dubbs, só que um pouco mais atraente. Finalmente, o fantasma pediu a Dubbs que os dois cantassem em dueto a ária do Fausto, o que fizeram com grande fervor. Pela manhã, o fantasma saiu através da parede, e Dubbs, tentando imitá-lo, quebrou o nariz".

          Este parece ser um clássico caso do fenômeno da aparição. Segundo o depoimento de Dubbs, o fantasma voltou mais uma vez e fez a Sra. Dubbs levitar sobre a mesa de jantar durante 20 minutos, até deixá-la cair dentro do ensopado. É interessante notar que os espíritos têm uma tendência a certas brincadeiras de mau gosto, o que A. F. Childe, o místico britânico, atribui a um forte sentimento de inferioridade pelo fato de estarem mortos. As aparições são frequëntemente associadas a pessoas que desencarnaram de maneira estranha. Amos Dubbs, por exemplo, morreu em circunstâncias misteriosas, quando um fazendeiro plantou-o por engano junto com os nabos.


                       Separação da Alma

           O Sr. Albert Sykes narra a seguinte experiência:

           "Eu estava comendo biscoitos com alguns amigos, quando percebi que minha alma saiu de meu corpo e foi dar um telefonema. Por alguma razão, a chamada era para uma companhia de fibras de vidro. Minha alma então retornou ao corpo e ficou quieta por uns 20 minutos, esperando que ninguém fizesse perguntas indiscretas. Quando a conversa começou a girar em torno de aposentadorias, ela saiu de novo e foi dar uma volta pela cidade. Estou convencido de que foi à Estátua da Liberdade e a um musical na Broadway. Em seguida, entrou num restaurante e fez uma despesa de 68 dólares. Então decidiu voltar para o meu corpo, mas não conseguiu táxi. Finalmente, veio a pé pela Quinta Avenida e ainda chegou a tempo de pegar o telejornal. Eu sabia que ela estava entrando no meu corpo, porque senti um súbito calafrio e ouvi uma voz dizendo: 'Voltei. Quer me passar aquelas uvas?'

          "Este fenômeno me aconteceu várias vezes desde então. Certa vez, minha alma foi a Miami passar um fim de semana. De outra feita, chegou a ser presa quando foi apanhada roubando uma gravata no Macy's. Na quarta vez, foi o meu corpo que abandonou minha alma, embora tenha se limitado a ir a um salão de massagem e voltar correndo".

          A separação da alma era muito comum por volta de 1910, quando diversas almas foram vistas vagando pela Índia, à procura do consulado americano. O fenômeno é parecido com o da transubstanciação, um processo pelo qual uma pessoa subitamente se desmaterializa e se rematerializa em outra parte do mundo. Não é das piores maneiras de viajar, embora se tenha de esperar cerca de meia hora pela bagagem. O caso mais impressionante de transubstanciação foi o de Sir Arthur Nurney, que desapareceu enquanto tomava banho e apareceu repentinamente no naipe de cordas da Orquestra Sinfônica de Viena. Permaneceu durante 27 anos como primeiro-violino da orquestra, embora soubesse tocar apenas Eu fui no Tororó, e desapareceu certo dia durante uma tocata de Mozart, reaparecendo na cama ao lado de Winston Churchill.

                              
                                Precognição

          O Sr. Fenton Allentuck descreve o seguinte sonho precognitivo:

          "Fui dormir à meia-noite e sonhei que estava jogando biriba com um aspargo. De repente, o sonho mudou e vi meu avô a ponto de ser atropelado por um caminhão, ao dançar uma valsa com um manequim de vitrine no meio da rua. Tentei gritar, mas, quando abri a boca, produzi um som de sinos e o caminhão passou em cima dele.

          "Acordei gelado e corri à casa de meu avô para perguntar-lhe se tinha planos de valsar no meio da rua com um manequim. Ele disse que evidentemente não, embora tivesse pensado em disfarçar-se de taxidermista, a fim de enganar seus inimigos. Aliviado, voltei para casa. Quando cheguei, fui informado de que meu avô havia escorregado num sanduíche de salada de galinha e despensado pela janela".

           Sonhos precognitivos são muito freqüentes para serem atribuídos à mera coincidência. No caso em pauta, um homem sonha com a morte de um parente e esta acontece. Nem todos têm tanta sorte. J. Martinez, de Kennebunkport, Maine, sonhou que havia ganho o Sweepstake. Quando acordou, sua cama estava flutuando no meio do oceano.
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Extraído de "Sem plumas" (L&PM POCKET)

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