terça-feira, 27 de julho de 2010

Robert Brustein

O norte-americano Robert Brustein, nascido em 1927 (não sei se ainda está vivo), é um dos mais importantes críticos e professores de seu país, autor de inúmeros ensaios e livros, sendo o mais conhecido O Teatro de Protesto, do qual extraímos vários segmentos para colocar neste blog. Mas agora vou citar alguns trechos do prefácio do referido volume, assinado pelo autor, que acho que vale a pena serem conhecidos. (Lionel Fischer).

* * *

"Se o teatro de comunhão atinge o clímax com um sentimento de desintegração espiritual, o Teatro de Protesto começa com esse mesmo sentimento".

"Nietzche continua sendo a influência filosófica mais fecundante do Teatro de Protesto, o intelecto pelo qual quase todos os dramaturgos modernos devem aferir a própria envergadura. Quando Nietzche declarou a morte de Deus, estava igualmente anunciando a morte de todos os valores tradicionais. O homem só poderia criar novos valores tornando-se ele próprio Deus: a única alternativa para o niilismo estava na revolta e no protesto".

"O moderno dramaturgo é, essencialmente, um rebelde metáfísico, não um revolucionário prático; sejam quais forem suas convicções políticas, sua arte é a expressão de uma condição, de um estado espiritual. Na verdade, é um militante do ideal, um individualista anárquico, mais preocupado com o impossível do que com o possível; e seu descontentamento amplia-se às próprias raízes da existência. A própria obra de arte converte-se num gesto subversivo - uma reconstrução mais imaginativa de um mundo caótico e desordenado".

"O Teatro de Protesto não é um teatro popular, nem os seus dramaturgos estão muito interessandos em instruir as classes médias".

"Mesmo quando o dramaturgo rebelde não está em exílio geográfico, sente-se como um estrangeiro, uma vez que perdeu seu sentimento de pertencer a uma coletividade".

"É o conflito entre idéia e ação - entre concepção e execução - que forma a dialética central do drama moderno".

"A revolta messiânica ocorre quando o dramaturgo se insurge contra Deus e tenta ocupar o Seu lugar: o sacerdote contempla sua imagem no espelho. A revolta social ocorre quando o dramaturgo se insurge contra as convenções, a moral e os valores do organismo social: o sacerdote volta o espelho para a sua platéia. A revolta existencial ocorre quando o dramaturgo se insurge contra as condições de sua existência: o sacerdote volta o espelho para o vazio".

"Como malfeitor, o herói messiânico deseja matar Deus e destruir a antiga ordem; como benfeitor, deseja edificar uma ordem sua. À semelhança de Prometeu, desafia os céus por amor do homem...mas, tal como Moisés, Cristo, Buda, Brama e Confúcio, tenta formar novas leis, representando o papel de um salvador, com os meios de salvação ao seu alcance. E, como a maior parte dos salvadores, sofre o destino do bode expiatório às mãos da multidão: a traição cometida contra o herói messiânico fornece o clímax dramático do teatro messiânico, que, sucintamente, é uma dramatização da busca romântica da fé".

"O rebelde social raramente sugere qualquer alternativa nítida para as coisas que gostaria de destruir".

"Os dramaturgos burgueses mediam seu êxito pela capacidade de arrancar lágrimas da platéia, uma faculdade que os seus dramas, segundo Coleridge, tinham em comum com a cebola".

"Enquanto a revolta messiânica é potente e positiva, a revolta existencial é impotente e desesperada. Os dramaturgos messiânicos fazem seus personagens sobre-humanos: os existenciais os tornam sub-humanos. Os primeiros exageram o âmbito da liberdade humana; os segundos, da escravidão humana".

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