segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Teatro/CRÍTICA

"A tartaruga de Darwin"


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Um novo olhar sobre a História


Lionel Fischer


O presente espetáculo comemora duas datas importantes. A primeira, relativa à ciência: os 200 anos do nascimento de Charles Darwin, autor de "A origem das espécies". A segunda: os 40 anos de carreira de Cristina Pereira, uma de nossas melhores atrizes. E o texto escolhido, "A tartaruga de Darwin", do espanhol Juan Mayorga, empreende uma espécie de fábula que, protagonizada pela dita tartaruga - que existiu de verdade, mas aqui evoluiu até tornar-se uma mulher, ainda que com resíduos de sua antiga condição - ambiciona lançar um novo olhar sobre a História da humanidade nos últimos 200 anos. Com direção de Paulo Betti e Rafael Ponzi, que também atuam no espetáculo ao lado de Cristina Pereira e Vera Fajardo, "A tartaruga de Darwin" acaba de estrear no Teatro Sesi.

A idéia central do texto não deixa de ser interessante, pois a tartaruga Harriet (Cristina Pereira) invade a casa do historiador (Paulo Betti) e começa a contrariar uma série de informações contidas no trabalho que ele está escrevendo. Ao mesmo tempo, o cientista (Rafael Ponzi) decide fazer várias experiências com a inusitada criatura, o que leva ambos - historiador e cientista - a entrarem em permanente conflito. E em meio a revelações e disputas, presenciamos os ciúmes de Bete, mulher do historiador, que passa a se dedicar inteiramente ao seu relacionamento com a mulher-tartaruga.

Tendo vivido tanto tempo, Harriet presenciou acontecimentos fundamentais da História, como a revolução russa, os campos de concentração nazistas e o bombardeio de Guernica, entre outros. E como já foi dito, fornece sempre informações que deixam atônito o historiador, pois nunca constaram dos livros que lemos sobre tais temas.

Diante do acima exposto, e ao longo do texto, torna-se claro que a premissa fundamental do autor é a de demonstrar que, no fundo, a espécie humana, supostamente tão evoluída, na realidade estaria involuindo, num processo aparentemente irreversível de autodestruição. Ocorre, porém, que para materilizar um tema tão pertinente o autor criou uma obra por demais didática, repleta de informações mas carente de maior teatralidade.

E o espetáculo acaba sendo exatamente isto: uma espécie de aula, com pouquíssimas passagens realmente teatrais. Mas torna-se imperioso ressaltar que os diretores só por milagre conseguiriam criar uma dinâmica cênica mais interessante, dada a forma como o texto é estruturado.

No que concerne ao elenco, apenas o personagem de Cristina Pereira oferece alguma possibilidade de criação e a ótima atriz aproveita todas as oportunidades que lhe são oferecidas. Quanto aos demais, Paulo Betti, Vera Fajardo e Rafael Ponzi exibem trabalhos corretos, o máximo que deles poderia se esperar em tais circunstâncias.

Na equipe técnica, Rafael Ponzi assina uma ótima tradução, sendo irrepreensíveis o cenário e figurinos de Letícia Ponzi e a iluminação de Aurélio de Simoni.

A TARTARUGA DE DARWIN - Texto de Juan Mayorga. Tradução de Rafael Ponzi. Direção de Ponzi e Paulo Betti. Com Cristina Pereira, Vera Fajardo, Paulo Betti e Rafael Ponzi. Teatro Sesi. Sexta a domingo, 19h30.

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