quarta-feira, 13 de maio de 2009

Teatro/CRÍTICA

"Cidade das donzelas"

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Bizarra e divertida narrativa


Lionel Fischer


Como já dissemos inúmeras vezes ao longo desses 20 anos de exercício da crítica teatral, uma boa idéia não garante um produto final à sua altura. Mas é claro que é sempre melhor se partir de uma idéia potencialmente interessante, como no presente caso. O narrador Franzilino conta a história de um tal de Carolino que, ao chegar numa pequena cidade do sertão, toma conhecimento de que ali não existem homens e apenas mulheres muito feias. Por que seria?
Bem, ao longo da trama fica-se sabendo que as tais mulheres feias assassinam todos os homens que aparecem, só não ficando muito claro se antes mataram as mulheres belas por inveja ou qualquer outro impulso igualmente destrutivo.
Uma produção do grupo Troupp Pas D'Argent, "Cidade das donzelas" é o atual cartaz do Teatro Municipal Café Pequeno, após cumprir várias temporadas no Brasil e no exterior. Marcela Rodrigues assina o texto e a direção, estando o elenco formado por Carolina Garcês, Lilian Meireles, Natalie Rodrigues, Jorge Florêncio, Marcela Rodriues e Orlando Caldeira.
Escrita numa linguagem de cordel, a peça pode ser interpretada de várias maneiras. Se encarada apenas em seus aspectos mais evidentes, trata-se de uma história bizarra, com passagens muito engraçadas. Ao mesmo tempo, e ainda que não tenha sido esta a intenção da autora, a narrativa nos remete a alguns mitos, como o do canto das sereias que enfeitiçavam os navegantes e em seguida os matavam, assim como o de Meduza, que tinha serpentes no lugar dos cabelos e que também assassinava os incautos que dela se aproximavam.
Seja como for, Marcela Rodrigues revela muitas qualidades como autora, em especial no que concerne à sua capacidade de criar rimas inventivas e divertidas. Só achamos que seu texto poderia ser um pouco reduzido, pois há passagens que se alongam em demasia e assim retardam o desenvolvimento da narrativa.
Quanto à sua direção, esta impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico, cabendo destacar a expressividade corporal que extrai do elenco, sem dúvida o ponto mais atraente do espetáculo. Carolina Garcês, Lilian Meireles, Natalie Rodrigues, Jorge Florêncio, Orlando Caldeira e a própria Marcela Rodrigues demonstram, de forma irrefutável, que os atores não apenas podem, como devem, utilizar não apenas suas vozes, mas todo o seu corpo, convertendo-o no que poderíamos chamar de "massa expressiva".
Na equipe técnica, destacamos com o mesmo entusiasmo a excelência do trabalho de todos os profissionais envolvidos neste curioso e pertinente projeto - Lilian Meireles e Orlando Caldeira (figurinos), Jorge Florêncio, Natalie Rodrigues e Marcela Rodrigues (cenário e adereços), Rafael Juliani, Flavio Monteiro e Kátia Jórgensen (músicas) e Luiz Paulo Nenen (iluminação).

CIDADE DAS DONZELAS - Texto e direção de Marcela Rodrigues. Com o grupo Troupp Pas D'Argent. Teatro Municipal Café Pequeno. Sexta e sábado, 21h. Domingo, 20h.

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